segunda-feira, 8 de março de 2010

Falar no Telefone

Para mim, que tenho uma filha de nove anos morando em outro Estado (longe longe numa cidade nada encantada), o telefone, de quem nunca fui muito amigo, virou uma espécie de obsessão.
Primeiro foi difícil para mim aceitar ter que falar só por telefone com Helena, assim como é difícil aceitar que ela está tão longe em todos aspectos. Mas o telefone foi o primeiro.
Por algum motivo eu tive a brilhante idéia de ligar todos dias para ela, de falar com ela todos os dias.
Isso foi ótimo, mas ai surgiu a segunda questão. Tá, mas o que falaremos.
Eu já mencionei que não gosto muito de telefone. Pode ser até um desdobramento do meu funcionamento mental. Especulando eu diria que se não fosse por ser com a Helena, eu não conseguiria. Mas tudo bem, o que falar?
Tempo, colégio, que fez hj, o que comemos... E por ai vai.
Descobri que o importante é começar e ir falando. Em seguida ela tb começa a trazer assuntos.
Mas não foi tudo assim tão fácil. Eu estava bastante preocupado com perdermos o vínculo, neurótico mesmo. E "julgava" a "qualidade" dos assuntos, como se isso fosse assim. Puxa, às vezes eu me impressiono do jeito que sou esperto para umas coisas e totalmente tapado para outras, especialmente para as coisas do lado emocional.
Eu percebi, depois de ter sofrido muitas vezes porque tava achando ruim as conversas, que o importante é falarmos. É importante pra ela saber que não tá "solta" e abandonada pelo pai - e isso é o essencial, mais do que eu sofrer é tentar fazer ela ficar melhor.
Depois foi complicado porque este negócio todo de ter a filha longe e de ter atritos com a ex-mulher, faz com que agente fique muito inseguro.
Criança tem uma coisa: Se distrai. Muitas vezes estamos conversando e eu percebo que a Helena tá no CPU teclando num jogo, ou vendo TV, às vezes ela está falando com outras pessoas... No início isso foi doloroso pra mim, porque eu imaginava que a minha ligação era tão importante que deveria ter preferência e tal... Mas depois notei que não é nenhum tipo de desprestígio, mas sim uma coisa de criança. Puxa, eu me lembrei de qdo eu era criança! Eu não conseguiria falar nem metade do que ela consegue sem se distrair, por melhor que fosse o papo.
Mas aceitar isso? Não é, e não foi fácil.
Agora qdo falamos, se ela está com alguma amiguinha ou fazendo algo que tá muito distraída, eu pergunto na boa se quer deixar pra conversar depois, que eu ligo mais tarde, ou na manhã seguinte. Às vezes ela pede que eu ligue depois, outras diz que não.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Roupa Velha

Poxa, alguém avisa o motorista pra ir mais devagar??

Tô me dando conta que estou com 40 anos e uma filha de 9 anos! Parece que foi ontem que ela nasceu, parece que foi ontem eu tinha 16 anos e meu amigo Beto chegou na aula, colégio Rosário, usando uma espécie de capa em tons de marrom, com um chapéu combinando. Hoje seria muito sofisticado, mas na época demos boas gargalhadas de tão ridícula indumentária.
Ele explicou ainda, para infelicidade dele nos próximos anos, que a tal capa e chapéu tinham pertencido ao seu avô e o pai trouxera para o Brasil vindo de Portugal, trinta anos antes.

Hoje eu estava subindo uma escada e casualmente olhei para o meu sapato. Estava calçado com uma espécie de bota estilo militar, com a ponta descolorida, de leve. Automaticamente pensei que tinha que aposentá-la ou mandar para o sapateiro e, abismado, percebi que a tal bota é muito antiga. Ganhei ela dos meus tios, bem antes da Helena nascer.

Lembrei de uma penca de roupas e sapatos que eu tenho há mais tempo. Ou seja, tenho um monte de roupas de 10 até 25 anos que uso eventualmente, estão boas e vão durar muitos anos ainda.

Será que é normal isso ou eu sou uma exceção? Não importa, mas é duro pensar nas implicações disto.

Quando o Beto falou, lá nos anos 80, que estava usando uma roupa dos antepassados, com mais de 20 anos, eu fiquei entre incrédulo e asqueado. Como alguém poderia ter uma roupa tão velha? Impossível. E sendo verdade, como tem coragem de andar com uma coisa velha assim?

Que diria o "jovem Eu" se soubesse que andaria por ai tranqüilamente com roupas que dobram a idade da própria filha?

O tempo vai passando, sem que se perceba. Já vamos nos acostumando com isso, diferente de quando se é jovem que as mudanças são mais fáceis de notar.

E um dia se percebe que somos pessoas de um par de botas antigo, mas ainda bem boas. É engraçado isso, o sentimento desta descoberta. Especialmente porque faz pensar que algumas coisas são para pouco tempo, outras são para muito tempo, e outras para toda a vida.

Em uma dimensão única ter uma filha é experimentar a mudança e o para sempre ao mesmo tempo, reconciliados nas nossas vidas.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nadando contra a corrente

Ter uma filha que mora em um lugar distante, com uma mãe rancorosa é das coisas mais difíceis que pode acontecer, acredite.

A filha naturalmente idolatra a mãe, até uma certa idade ao menos. A mãe é o guia da filha para o mundo feminino, onde ela se espelha. E quando a mãe tem questões pendentes com o pai, reais ou imaginárias, é muito comum ela usar a criança para atingir o outro.

Eu vivo isso. Rapaz, é impressionante a diferença quando a minha filha está em visita na minha casa e quando está na cidade onde mora com a mãe. Já até desconfiei que os emails e msns que recebo da minha filha são da mãe dela, se passando. Mas não. Pelo jeito não é.

É duro ouvir as mesmas palavras da boca da filha, que a sua ex-mulher proferia.

Pense bem. Você acha que se livrou da ex-mulher e ai ela "reaparece" na sua filha. E você sabe que ela não tem consciência do que está falando. Que se faz nesta situação?

Chuta o balde? Não dá pra se livrar da filha, como se consegue botar para correr a ex. A filha você ama, e por mais triste que fique com as M$$#!@s, continua amando.

Então é um tipo de pesadelo redivivo... O meu medo, na verdade, é que a persistência disso acabe nos afastando ao longo do tempo.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Explicando a formação do sistema solar para minha filha de oito anos (coisa que o professor não conseguiu)



Helena, há muitos, muitos muitos muitos e muitos anos atrás, mais tempo do que a idade de todas as pessoas do mundo, quando nem os dinossauros existiam, quando nem o sol existia, só existia uma coisa: Uma bola...


Só havia uma gigantesca bola e nada, nada nada nada em qualquer outro lugar.


Nesta bola estava tudo que existe hoje.

Tava tudo grudado e tão junto, tão apertado, que era uma coisa só.

Imagina que vc faz uns bonecos de massa de modelar. Cada boneco tem pernas, braços, cores diferentes... Então, se vc resolver juntar tudo em uma bola de massa de modelar, então os bonecos ficam todos juntos, grudados, misturados, numa coisa só.

Bem, esta bola que existia qdo nao existia nada era como uma gigantesca bola de massa de modelar com os planetas, os sóis, os cometas, as pessoas... tudo tava lá, só que misturado

e muito muito apertado.

Bem, um dia, não se sabe o motivo, esta bola gigante EXPLODIU!!!!!



Então tudo que tava lá na bola, saiu voando muito rápido pelo vazio (pelo lugar ao redor da bola que tava vazio)

Estes pedaços de coisas que estavam na bola, com o passar de muitos muitos muitos e muitos mais anos, foram se grudando denovo, se misturando, formando coisas novas... Umas formaram estrelas, outros pedaços formaram galáxias, outros formaram cometas...



Umas estrelas, depois de muitos anos, deixaram escapar pedaços... Estes pedaços esfriaram (porque a estrela está pegando fogo), e depois de muitos anos, estes pedaços frios viraram planetas.



E uma das estrelas que se formaram com pedaços da bola (aquela primeira bola que existia qdo nada existia), formou o nosso sol.

E um dia, do nosso sol, uns pedaços sairam (então o nosso sol era novinho e perdia pedaços fácil).


Estes pedaços formaram os planetas, mercúrio, vênus, terra, marte, júpter, saturno e netuno, além de plutão e de asteróides e cometas.



No planeta terra, como tava num local bom, nem muito quente, nem muito frio, começou a existir água... e na água, surgiram pequenas coisinhas que formaram os primeiros animais e plantas. E com o passar de muitos e muitos anos estes animais e plantas foram crescendo, mudando, evoluindo, aparecendo novos, outros sumindo (como os dinossauros), até que chegou em vc, eu e as outras pessoas, que é hoje.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Carta para a Helena menina, carta para a Helena não esquecer


Certo dia, certa semana, me aconteceu de ter que escrever uma cartinha para minha filha, que iria para uma espécie de "cápsula do tempo", ou seja, ia ser colocada num cilindro. Este cilindro seria enterrado e aberto no final do ensino médio, antes do vestibular. Para a Helena e para todas outras crianças da turminha. E ai me bateu o branco! Foi assim que comecei escrevendo

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Branco...

Helena, uma vez quando você era um bebê, me disseram que as crianças eram como páginas em branco (igual a essa em que começo a escrever).

Acho que as pessoas dizem isso para nós, pais novinhos, para que tenhamos cuidado com o que ensinamos pros nossos filhos. Pensam que nós também somos páginas em branco como pais e precisamos ajuda (estão certíssimos).

As pessoas querem dizer, Helena, que os pais podem ensinar para a criança qualquer coisa, assim como se pode escrever qualquer coisa em uma página em branco. E qualquer coisa é muita coisa! Em "qualquer coisa" cabe um universo, cabe qualquer coisa.

Isso é um pouco da verdade. As crianças realmente aprendem muito dos pais, de certo e de errado.

Mas não é só.

Eu percebi que as folhas (que são as crianças), não estão paradas em algum lugar na casa dos pais. Elas estão voando no vento, carregadas pelo vento (e este vento é o mundo).Nada é estático, nada é passivo.

Os pais têm que voar também, se quiserem acompanhar. Temos que voar se quisermos escrever e ler o que está escrito nos nossos filhos.

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Eu sei...Quem são as suas melhores amigas (só não vou escrever aqui porque alguma outra amiga pode ler, e ficar chateada). Também quem são as outras amigas. Mas não me peça pra explicar as relações entre vocês, porque pra mim isso faz parte do mistério feminino.

Sei qual a sua cor preferida, e qual a sua cor REALMENTE preferida. Sei por que você fala que uma cor é a preferida, mas na verdade AMA outra cor e não diz.

Sei quais foram seus bichinhos e, que quando perdeu um deles, nunca mais esqueceu. (nem eu esqueci, Lelê, porque eu amava ele também).

Conheço seu jeito de feliz, de fazer manha, seu jeito de pedir e seu jeito de se chatear. Também saberia de olhos fechados que são as suas mãos nos meus olhos ou que aquele beijinho de surpresa é seu.

Seus personagens, seus bonecos, filmes e músicas. Tudo isso eu conheço. Eu sei.

Aprendi a falar a sua língua, com “se fazer” e “é bala” e tudo mais. Até adotei algumas pra mim, bala né?

Sei escolher as roupas do seu gosto. Estou sabendo que não gosta muito de leite, adora sushi (menos “de peixe cru”) e come bolacha recheada e cueca virada (escondida da sua mãe), na casa da vó Sandra.

Não consigo entender os enredos dos seriados como “Zack e Cody”, mas sei quais são seus preferidos e quais deixou de gostar na medida em que crescia.

Sei que gosta de cortar o cabelo no verão e deixar crescer o resto do ano, para estar com ele comprido no espetáculo de balé no fim de ano. Sei tantas coisas sobre você que não caberia aqui.

Ou seja, Helena, sou um “especialista” em Helena.

Não sei o que vai acontecer nas nossas vidas.

Ninguém sabe e, em certa medida, nós mesmos é que vamos decidir isso.

Mas sei que sempre vou estar do seu lado.

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1977...

Foi o ano que corria quando eu tinha 7,5 anos, que é a sua idade hoje.

2008 – 1977 = 31 anos. (é nossa diferença de idade)

Em 1977 o Grêmio foi campeão do Gauchão depois de sete vitórias consecutivas do inter. Eu fui no jogo final. A minha mãe (sua avó Sandra) tinha um fusca 1974 bege e seu avô Roberto um maverick azul. (eu lembro do maverick descendo a lomba lá do meu quintal quando fechava o portão, sempre parecia estar sorrindo)

Foi o ano em que morreu Elvis e nasceu o criador do Orkut. (pesquisei isso na internet)

Sabe o que me impressiona mesmo, Helena? É que me lembro de muito pouco deste ano 1977 na minha vida.

Sei que muitas coisas aconteceram e me marcaram pela vida, antes ou depois de 1977. Mas eu não lembro direito, como lembro cada detalhe dos seus 7,5 anos.

Tudo em relação à você me parece tão importante, como foi que perdi as minhas próprias lembranças?

Então, se você um dia for tão esquecida como eu (ou se isso for normal, as pessoas esquecerem a maioria das coisas que aconteceram quando tinham 7,5 anos), eu quero que se lembre sempre que EU TE AMO.

E que sua mãe tem um Escort, eu um Jeep... De futebol prefiro não comentar (ah, ta bom... “o inimigo” ganhou este ano). Não sei quem nasceu que será importante daqui a 31 anos, mas morreu o Arthur C. Clarke e o Beto Carreiro, ambas eu senti muito apesar de ninguém ser eterno.

Mas especialmente lembre que eu te acho a filhinha mais especial do mundo, a melhor companhia do mundo, inteligente, bondosa, linda e que te amo. Se não lembrar, tudo bem. Eu vou te encher com isso de qualquer maneira, não vai conseguir esquecer!

Do teu papai, para a caixinha e para Helena.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Quando fui mordido por um tubarão

Certo dia recebi a ligação telefônica da diretora da escola onde estudava minha filha, então com 4 anos.
Queria saber se eu estava bem.
Claro, tudo bem, porque?
É que a Helena contou que vc foi mordido por um tubarão.

Pode parecer incrível que a diretora tenha me ligado por uma idéia tão absurda, ainda mais que moro em Porto Alegre, bem longe do litoral. Mas a coincidência é que a tal estória do tubarão ocorreu na volta de um feriadão, onde passamos no litoral do nordeste vários dias.

Na "rodinha" onde as crianças contam o que houve no feriado, a Helena contou que "meu pai foi mordido por um tubarão".

Eu dei muita gargalhada! Falei para a diretora que como eu era muito doce, o tubarão diabético, foi obrigado a me guspir!

A Helena ficou muito constrangida, mas com um certo tato, consegui que ela me contasse que na rodinha todos estavam falando coisas muito interessantes, e ela não lembrava muitos detalhes naquele momento para contar do fim-de-semana (e olha que fomos para o nordeste em programação muito cheia, buggy, praias, feiras, etc). Mas então ela imaginou uma situação e contou, para causar impacto. E realmente causou :)

Agora escrevendo isso, lembro que a minha reação foi de achar engraçado, e da mãe da Helena de preocupação. Ela achou que talvez a menina estivesse manifestando algo, um medo, uma demência, sei lá. Mas muitas pessoas conversaram conosco sobre o assunto, inclusive especialistas, e garantiram que é normal a imaginação da criança se misturar com a realidade.

Mas não fiquei muito tranquilo agora... Na época sim, mas agora eu já não tenho tanta certeza. Será que não tem algum significado ela ter me escolhido para alimentar os tubarões? Putz.

Filha parte ou não?

Eventualmente, eu me separei da mãe da minha filha.

Ela foi a minha primeira namorada séria (tipo, apresentar para os pais), coisa que hj talvez seja até difícil explicar para a gurizada, mas enfim, acontecia assim. O início, como tem que ser, é de muita descoberta para um casal jovem. Tudo é novo, desde fazer planos, uma parceria sexual costumeira, fazer mais planos e colocar alguns em prática. Somos adultos, viva :)

Eu penso que poderíamos chamar isso de "Paraíso", para usar um exemplo que todos compreendem, no sentido bíblico. Dois descobrindo o mundo, se descobrindo e eventualmente, dois contra o mundo. Não tem como um casal assim não viver bem, a união é muito forte.

Pois quando a filha nasce, o casal se desune. É inevitável. Dois viram três e as equações se modificam. O "dois contra o mundo" até continua, mas às vezes um dos pais é parte do "mundo", geralmente o pai no início.

Esta equação tem solução, claro. Em realidade é parte do aprendizado do Adão e da Eva para viverem fora daquele paraíso que, tanto quanto o bíblico, é ilusório. Faz parte do crescimento, e quem não consegue passar por isso com persistência, perde muito tempo e vai aprender depois.

Mas e quando vc resolve a equação da filha, tudo bem, mas descobre que a outra pessoa não sendo a Eva e vc não sendo o Adão, não funciona?

Ih, rapaz. Complica mesmo.

No meu caso foi isso. Quando resolvemos a equação de dois virarem três, com algum acréscimo de maturidade e com muitas lições da nossa filha... olhamos um para o outro e, bem, tivemos que começar denovo. Quem é essa pessoa ai??

Por momentos, por tempo, funcionou. Tinhamos um passado muito legal, famílias integradas, uma filha maravilhosa, amigos, parcerias várias... Ou seja, nutriamos muitos sentimentos irmanados. Mas e o resto? O resto faltou.

Muitos anos eu levei a relação sofrendo a infelicidade de viver com quem eu não amava e, pior, a infelicidade de não conseguir amar a mãe da minha filha. Como eu queria conseguir! E tentei, muito, porque não queria me separar.

Mas são castelos de areia, as idéias que tentam resistir ao mar, das emoções.

Não foi fácil, ao contrário, foi horrível. Não é coisa que agente diga que faria de novo ou se arrepende, porque não existem opções. A situação existe, simples, e vc que rebole para viver com isso.

Romper uma família é muito dolorido. Deixar de conviver com a filha diariamente traz um vazio que está sempre comigo. Mas se sente falta de tudo, até das brigas, por incrível que pareça. São como dedos ou braços amputados, vc continua sentindo eles mesmo não existindo mais.

Mas e qdo a mãe da sua filha resolve mudar de cidade e de estado, por causa da separação, levando com ela a menina?

A filha parte, e vc fica partido. Parte sua, parte.

Sabe aquela sensação de sair de casa e ter certeza de que deixou algo importante e que vai precisar, e não sabe o que? Eu tenho esta sensação o tempo todo, e sei o que está faltando.

Tenho desconfiança que é algo errado comigo, porque não passa. Meses se foram, e os sentimentos doloridos continuam. Dizem pra mim que passa com o tempo, mas não passa nada, ao menos para mim.

Acho que muito é de uma situação particular. Já vi que às vezes pessoas perdem entes amados para a morte, e se são religiosos, se consolam melhor com idéias de que as pessoas foram "desta para melhor".

Pois no meu caso, sei que minha filha não está melhor, mas sofre muito onde está. Não tem família, deixou tudo que conhecia (colégio, amigos, ballet, cidade), vive em um lugar em tudo pior. Isso rasga a alma de qualquer pessoa, especialmente de um pai.

Então, fico em dúvida se é porque a filha é parte da gente, ou não. Se é porque está mal... Conjecturas inúteis, que fazem parte do sofrimento.